sábado, 8 de agosto de 2009

RITMO CONSTANTE? QUEM DISSE?

RITMO CONSTANTE? QUEM DISSE? Os livros mais tradicionais de fisiologia do exercício (não os escritos por treinadores!) sugerem que a estratégia mais eficiente para completar uma corrida é correr em ritmo constante durante o tempo todo. Isto porque a fisiologia trabalha numa lógica em que o corpo está sempre em seu limite, e um ritmo constante não causaria acúmulo de lactato ou depleção de "combustíveis" em níveis que causariam fadiga no início da prova, impedindo o corredor de continuar o esforço.

Porém, analisando as competições dos melhores corredores do mundo só podemos chegar a conclusão de que eles não gostam de ler os livros de fisiologia do exercício! Veja, por exemplo, o gráfico da performance do etíope Kenenisa Bekele durante a conquista de sua segunda medalha de ouro nos 10.000 m, durante as Olimpíadas de Pequim, vencida em 27:01.17 (ao lado).

Bekele, ao invés de manter um ritmo constante, acelerou durante toda a prova! Os primeiros 5 km foram corridos em 13:48.5, e a segunda metade em 12:52.7. Isso quer dizer que os últimos 5 km foram corridos aproximadamente 5.6 segundos mais rápidos por quilómetro.

Por outro lado, Bekele preferiu não começar num ritmo muito forte. Então, antes que você desista desta matéria, vamos aprofundar um pouco mais a análise. Bekele começou num sprint de 14.7 segundos para os primeiros 100 m, e logo depois já estava correndo em 16.2 a 18.5 segundos cada parcial de 100 m (a média das parciais de 100 m foi de 16.21 segundos). Isto é dependente de um factor básico: algumas provas se correm para ganhar, outras, para bater recorde. Quando se corre para ganhar, se busca uma estratégia que permita "matar" os adversários, mas também permita ao corredor ter alguma reserva no final para qualquer eventualidade. Foi exactamente o que ele fez, ao puxar um ritmo cada vez mais forte ao invés da esperada queda de ritmo no meio da prova, sem que isso lhe impedisse, no entanto, de correr a última volta em menos de 54 segundos. Imagine-se agora na situação de oponente de Bekele, tentando suportar o ritmo ao seu lado...

Para dar mais força ao contraste entre o correr para ganhar e o correr para bater recorde, veja ao lado as provas do queniano Sammy Wanjiru (2:06:32) quando foi campeão olímpico em Pequim, e do etíope Haile Gebrselassie, quando bateu o recorde mundial da maratona em Berlim (2:03:59).

Descontando-se variações em percurso e clima, observe as diferenças de mudança de velocidade entre os dois corredores. Haile correu uma prova "tranquila", esforçando-se o tempo todo, e com a ajuda de pacers para bater o recorde mundial da prova. Ele começou num ritmo mais acelerado pelos primeiros 10 km, desacelerando um pouco até a marca dos 30 km e então voltou a apertar o passo. Já Wanjiru correu sob condições climáticas bem mais adversas, numa prova repleta de corredores ambicionando a medalha de ouro. Uma prova assim apresenta várias "escapadas" do pelotão principal, e o ritmo se torna muito mais variado.

Para quem deseja melhorar sua marca pessoal, é melhor inspirar-se no exemplo do recorde mundial de Haile. Pratique em seus treinos, nas sessões mais longas e em corridas menos importantes, qual a melhor táctica para maximizar sua performance. Descubra por quantos quilómetros você consegue sustentar um ritmo um pouco mais forte no início da prova, e quando você consegue iniciar seu "sprint" ao final dela, e conquiste seu tão sonhado recorde!

Revista Contra Relogio

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