quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma visão sobre o atletismo em cadeira de rodas em Portugal



Sex, 13 Ago 2010
Opinião - Mário Trindade - Presidente da ANACR



Os Atletas praticantes de atletismo em cadeira de rodas carregam por si só, muito antes de se encaminharem para a modalidade, uma história de luta, traumas, angústias e preconceitos.

Procuram superar-se de alguma maneira, depois de vencidos os traumas. Uma das formas de auxílio na superação desta condição é a prática desportiva.
Sempre que se fala em deficiência em Portugal, há um arrepio na espinha. Não é fácil ser um atleta deficiente pois as pessoas apostam mais por pena do que por valor. Mas as mentalidades têm de mudar e cabe-nos a nós contribuir para essa revolução.
A minha visão sobre o atletismo em cadeira de rodas em Portugal, não é muito positiva, visto esta modalidade ser muito dispendiosa, um atleta para se iniciar na modalidade necessita no mínimo de uma cadeira de rodas e um par de luvas, cerca de 5000 euros, depois há que contar com as deslocações para os treinos e provas.
Os apoios para quem se quer iniciar são zero, tem que ser a pessoa a trabalhar para conseguir os apoios e nem todos tem a mesma força de lutar, dai em Portugal o número de praticantes ser tão reduzido a treinar regularmente e com objectivos há 4, 5 atletas, depois temos cerca de 10 que treinam pontualmente para uma ou duas provas.
Os prémios monetários das provas para este escalão também não são nada convidativos uma meia maratona em Portugal dá para o 1º lugar 150 euros, o que em alguns casos não chega para cobrir as despesas de deslocação/alimentação/dormida, depois os prémios são para os 3 ou 5 primeiros atletas, logo raramente se tem numa prova mais do que 5 atletas, pois aqueles que sabem que não conseguem chegar aos prémios não vão, porque o dinheiro que vão gastar vai fazer falta para coisas mais importantes.
Dentro do desporto adaptado, o atletismo em cadeira de rodas está cotado como um dos mais dispendiosos. As cadeiras para competição atingem os cinco mil euros, sendo que as pensões para deficientes rondam muitas vezes os 200 ou 300 euros. As hipóteses são mais que reduzidas, “são nulas”. Um par de pneus para as rodas de trás custa 120 euros. Se há um azar num treino ou numa prova, os prémios não são suficientes para cobrir os custos. A um atleta deficiente numa meia maratona dão 150 euros pelo primeiro prémio. Se for tido em conta as deslocações, a estadia e a manutenção das cadeiras, não chega. A um atleta dito normal, o prémio é de 1000 ou 1500 euros. Uma realidade muito díspar. Se para treinar há muitas pistas pelo País, outras contrariedades não parecem ser tão fáceis de contornar, não há especialização nesta modalidade. O atleta que se especialize nos 100 metros só corre uma vez por ano.

A pouca visibilidade que este desporto ainda tem em Portugal não ajuda em nada com que os atletas consigam obter apoio sem o qual não se consegue evoluir.

Uma das coisas que precisamos de fazer para esta modalidade melhorar e aumentar o número de praticantes no nosso país, é as associações que tem cadeiras de rodas usadas colocarem as mesmas aos dispor de pessoas com deficiência que queiram iniciar-se nesta modalidade, consoante a pessoa for evoluindo ir investindo em novos equipamentos e mais adequados a sua deficiência.

Contudo é importante não parar. E de todas as maneiras possíveis e imaginárias tentar levar a mensagem às pessoas com deficiências que estão dentro de casa que o desporto é saudável, assim como um factor de integração na sociedade indiscutível.

2 comentários:

  1. Parabéns pela divulgação deste texto aqui.
    Já informei Mário Trindade (por mail) da existência deste blogue e da divulgação deste texto aqui.

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  2. Terei todo o prazer em poder ajudar dentro das minhas possibilidades...

    Concordo plenamente: "Mas as mentalidades têm de mudar e cabe-nos a nós contribuir para essa revolução."

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