sábado, 9 de janeiro de 2010

PISTAS DE TARTAN E O DESENVOLVIMENTO DO ATLETISMO

dezembro 02, 2005

PISTAS DE TARTAN E O DESENVOLVIMENTO DO ATLETISMO


A discussão é extensiva e certamente preponderante para a modalidade, dado que é aqui onde reside o fundamental da formação de qualquer atleta. Numa altura de balanço por parte da Federação Portuguesa de Atletismo ( FPA ), onde o Prof. Fernando Mota parece estar de saída após muitos anos à frente dos destinos da FPA, a conclusão com que se fica é que o número de pistas de atletismo tem aumentado em grande escala por todo o país, embora nem sempre com o melhor enquadramento.

Segundo estatísticas extraídas do site oficial da FPA existem neste momento 62 Pistas de Ar Livre, 4 Pistas Cobertas e 10 Áreas Especiais à prática da modalidade. Serão estes números elucidativos?! Terão qualidade postos na prática?! Analisemos:

Das 62 pistas de Ar Livre, apenas uma foi construída nos anos 70 ( em Lisboa ), três nos anos 80 ( Porto e Madeira ) e desde os anos 90 deu-se o boom quantitativo destas infra-estruturas ( 26 pistas nos anos 90 e 32 pistas nos últimos 5 anos ).

A quantidade aqui não sugere qualidade e se por um lado demos condições a mais locais, por outro nem sempre as pistas têm sido bem geridas pelas autarquias e organismos locais. Outro dos problemas existentes é a falta de acompanhamento técnico das pistas. Umas existem mas apenas podem ser utilizadas para competições, outras existem mas são mal utilizadas, outras existem mas não têm um projecto técnico onde haja uma pessoa responsável na organização , etc. Se a abundância pode sugerir qualidade, de logo temos de colocar de parte essa errada tese.

Quantas e quantas vezes já não vimos cenários de austeridade para com aqueles que não pertencem à Alta Competição?! Lembro-me de uma situação em que restringiram a atletas orientados por mim a utilização da pista 1 porque desgastava o tartan. Ou seja tinha um atleta para fazer séries e não lhe foi possibilitada essa situação. Isto é a formação que se quer?!

Évora é o único distrito que oficialmente não tem pista de atletismo ( segundo dados do site oficial da FPA ), sendo que todos os outros têm essa instalação. Contudo assistimos a uma particularidade das pistas portuguesas, onde na maioria existe demasiado vento, o que restringe a um pequeno lote a existência de pistas de boa qualidade para competições. Lembro-me agora da Pista Municipal de Lagos, que acolheu este ano duas grandes competições ( Olímpico Jovem Nacional e Taça dos Clubes Campeões Europeus ) mas que se afigura como mais uma das típicas pistas portuguesas, ou seja, com demasiado vento.

Entrando no particular da quantidade de pistas para cada distrito, de referir dois exemplos:

Lisboa é, como seria de esperar, o distrito que mais qualidade tem a nível de clubes e atletas. Tem 7 pistas de atletismo ( 4 no concelho de Lisboa ) e 1 Área Especial ( no Colégio Salesiano de Manique ). Está agora em construção mais uma pista no concelho de Lisboa destinada às Secções de Atletismo do Sporting Clube de Portugal e Sport Lisboa e Benfica. E será que a formação no distrito de Lisboa está a ser bem acompanhada?! No concelho de Loures existe um planeamento concelhio da modalidade perfeitamente delineado. Na formação são os clubes de Loures que levam a quantidade aos torneios jovens distritais. Contudo são os clubes de Lisboa, Sintra e Cascais que mais qualidade têm. Não faltará uma pista no concelho de Loures com o risco de perdermos enormes talentos para a modalidade?! Não faltará a construção no distrito de Lisboa da prometida Pista Coberta?!

Aveiro é actualmente dos distritos que melhor trata da formação. Como prova disso está a manutenção nos lugares cimeiros nos últimos anos no Olímpico Jovem Nacional. Contudo, nesse distrito existem apenas duas Pistas Ar Livre, embora a existência durante a época de Inverno da Pista Coberta de Espinho venha colmatar algumas lacunas. Será isso necessário para se manterem os jovens atletas?! Será que não se tem vindo a prejudicar imensos atletas nesse distrito?!

A situação não está formidável, mesmo com a continuação da distribuição das pistas pelo país, que é demasiado casuística a meu ver. Não há enquadramento técnico na generalidade, não há preocupação em criar pistas com qualidade tanto para o treino como para a competição, não há preocupação em levar a pista para servir aqueles que realmente precisam dela e pior que tudo, assistimos a uma dificuldade para os clubes utilizarem as mesmas, embora gradualmente se assistam a melhorias neste ponto.

As pistas podem realmente provocar um bom desenvolvimento da modalidade, mas para isso têm de ser enquadradas correctamente e saliento um último exemplo. A Pista Municipal de Mafra é das mais ventosas do país, de tal modo que as únicas competições que existem são distritais nos escalões jovens. Contudo, as escolas deste concelho e os seus núcleos de Educação Física dão uso a este equipamento que se torna importantíssimo no panorama da formação. Assim se promove a modalidade e passamos da formação, à promoção e consequentemente ao desenvolvimento.

Que nos reserva o futuro?! Continuação de boom casuístico?!

Edgar Barreira

in Atletismo Magazine - Modalidades Amadoras nº3 ( Outubro )

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