Henriqueta Solipa correu a sua quinta Maratona no passado
domingo, em Roterdão. O objetivo era alcançar o tempo de 4h00, mas tal
não foi possível. Mas não deixou de ser uma prova inesquecível, ainda
mais de uma prova que tem como slogan “You will never walk allone”.
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Porquê Roterdão? Escolhi Roterdão porque o meua migo
José Xavier, quando esteve em Portugal no Verão, num treino conjunto, disse-me que era uma experiência única, algo claro no seu slogan:
“You will never walk allone”, onde o último é recebido como o primeiro! A
partir de então ficou apalavrado, praticamente decidido que eu iria
correr a Maratona de Roterdão! Inscrevi-me quando as inscrições abriram,
na primeira hora, e troquei de imediato mails com o Xavier a dizer que o
primeiro passo já estava dado!
Segunda etapa, a mais difícil, a mais trabalhosa, a mais enervante…:
conseguir trabalhar para conseguir o meu objetivo, fazer a maratona em 4h00! Pedi
ajuda, ouvi os mais experientes e resolvi tornar os meus treinos mais
sérios, além de alterar a minha alimentação e ter a imprescindível ajuda
de Dinora Mendonça, do Ginásio Clube Português.
Tinha tudo, só faltava eu….
Estou habituada a correr com companhia, nunca tinha feito uma
maratona sozinha e escolhi Roterdão porque pensei que seria mágica.
Queria saber
até que ponto a minha cabeça funcionava bem a fazer uma prova desta dimensão. Quer se queira, quer não,
a Maratona é uma prova “de cabeça”.
São importantes todos os “passos” e os meus começaram bem. Aos poucos
diziam que corria melhor, que levantava mais os pés, comecei a ganhar
velocidade e até fiz séries, que simplesmente odeio!!!
Mas, pela causa, eu fiz, eu trabalhei! Durante a preparação, o Sadiq Kassamo “deu-me” na cabeça, tratou-me “mal” e orientou-me em tudo o que ele sabia, quer em velocidade como em longos…
Mas
o meu corpo já não tem 30 anos e as séries são
“tramadas”. As dores recomeçaram, a elasticidade dos isquiotibiais
começou novamente a dar sinais e a comprometer a velocidade, as pernas
já não as levantava como antes. No meio de tudo isto, as minhas
tentativas constantes de
arranjar uns ténis compatíveis com as minhas dores e mazelas.
A minha eterna luta, desde que corro! A minha queda de rendimento deu
cabo do meu joelho, que atrapalhou a minha preparação. Para piorar,
tive um acidente de carro… Parei uns tempos, não totalmente, mas tive de abrandar.
Fiquei muito feliz quando fiz os longos de 30 kms com o Nuno Rito e a Odília Pereira.
Tudo correu bem, sem dores nos pés.
Encontrei ainda uma sapatilha de corrida que finalmente se adaptou aos
meus pés. «Tinha de as levar, são cor-de-laranja, a cor da Maratona de
Roterdão», disse o Xavier!
Os últimos dois treinos longos
foram com o Luís Miguel, na Meia-maratona de Lisboa, onde aproveitei
para fazer mais quilómetros, e um treino realizado no domingo de Páscoa.
Nessa altura já
apresentava um cansaço fora do comum e os meus pés começaram a sofrer de cãibras, algo que até então nunca me tinha acontecido.
Fui para Amesterdão com muita esperança mas com receio.
Não tinha medo dos meus músculos porque sei que estavam bem preparados,
mas das minhas pequenas lesões de esforço, que agora sentia que estavam
frágeis. Estava muito ansiosa, queria muito cumprir o objetivo!
Quando cheguei a
Roterdão fiquei espantada.
Era uma cidade inteira em festa com a Maratona.
Queria estar atenta a cada pormenor e ver tudo… Vi por exemplo uma
prova para crianças. Na minha opinião estava “friozinho”, além de estar a
cair uma forte chuva, mas para elas estava uma temperatura de
primavera.
Eram muitas, muitas crianças a correr com os seus instrutores, em plena chuva! Passado algum tempo começou a prova para pessoas com falta de mobilidade. Muitos apresentavam características de
Síndrome de Down.
E estavam ali a correr… Foi realmente algo lindo de se ver! Todos com
as mesmas possibilidades, com as mesmas hipóteses de competir entre
iguais.
Como gostaria de ter ali os meus amigos da SPEM, todos a correr…
Fomos levantar os dorsais, como aconteceu em todas as Maratonas. O mesmo tipo de feira, mas com uma grande diferença:
nada de turbilhão, nada de atropelamentos! Tudo tranquilo, até parecia que não havia pessoas para correr. Algo realmente super bem organizado!
Chegou o “Dia D” !!!
O Xavier e a sua mulher, Amélia, entupiram-me de comida para não sentir falta de forças na Maratona.
Foi de tal maneira que, até ao km 10, nem água consegui beber.
Fui tipo camelo com a reserva (risos). Fiquei de levar o meu telemóvel
com a aplicação do Strava para a Dinora conseguir acompanhar a minha
prova, mas o carregador ficou em casa da Sara Ferreira, amiga da minha
filha onde eu tinha estado antes de ir para Roterdão. A Amélia
emprestou-me então o seu Garmin. Fomos cedo para a largada.
Sentia-me bem e nervosa, com aquele vazio da falta “ruidosa” do grupo
Tartarugas Solidárias.
Poucos momentos antes do início da prova,
o dedo do pé “mordeu”.
Descalcei-me e tentei aliviar os dedos… Passados 15 minutos, soou o
tiro da pistola. A partir do primeiro quilómetro começaram as dores.
«Está tudo estragado», pensei. «Se o pé começa a “morder” agora, a
seguir estou a correr toda torta.
Numa prova de 10 kms o mal é relativo, mas, na prova Rainha, faz toda a diferença.»
Aos 5 kms sentei-me no chão e descalcei-me. Aos 25 kms perdi o balão das 4h15, aos 31/32 kms perdi o balão das 4h30.
Estava muito devagar para o que estou habituada a correr. Se tivesse de continuar a correr após os 42 kms, consegueria continuar. Os meus músculos estavam tranquilos,
apenas doía os meus pés,
mesmo passando a fase do “dormente”. A dor já tinha passado para a zona
interior do pé e estava a apanhar a zona do tendão tibial posterior,
assim como os isquiotibiais.
Durante a maratona tentei abstrair-me, “rolar” e sentir o ambiente. Apesar do meu ritmo,
fui sempre acompanhada, como se a prova tivesse começado naquele momento. Havia atletas mascarados, quem corresse de sandálias e, por incrível que pareça, vi
uma mulher turca a correr de calças e burca, com uma mochila nas costas a prender para não voar.
Vi também pessoas durante todo o percurso a aplaudir e a incentivar,
sempre, durante toda a prova! Algumas, que não pertenciam a organização,
colocavam música alta nos carros para incentivar os corredores. Vi cair atletas, à minha frente e atrás. Ainda parei para ajudar, já estava mesmo tudo perdido…
Chorei muito, foi a minha pior Maratona. Triste,
muito triste, mas feliz ao mesmo tempo porque cheguei ao fim. Aliás,
tinha de terminar a prova de qualquer maneira porque havia uma medalha a
resgatar, uma foto a tirar! No ginásio, antes da maratona, o Nuno Moreira da Silva pediu: «
Tens de tirar uma foto com a medalha e a camisola.» Assim fiz, com o tempo de
4h48.
Definitivamente,
tenho de voltar a fazer a Maratona de Roterdão. É linda e o público incrível! Gostaria de agradecer também a todos os que me ajudaram!